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Orestes faria o mesmo
domingo, abril 30, 2006
Percebi outro dia na letra da minha mãe a vontade de ser meu pai. Um simples fato corriqueiro. A situação compreendia em deixar um envelope com uma quantia em dinheiro com o zelador para que eu posteriormente pegasse.
Momento notável em que vou receber aquele envelope branco com uma gigantesca sinalização de que o mesmo me pertencia. Não me pertencia de maneira comum. Pertencia-me em letras sinuosas e garrafais que frisavam o meu segundo nome. O nome de meu pai.
Talvez não tivesse tomado aquela feita por essa perspectiva absurda. Razoavelmente explicaria que sinto que é assim. Que num momento de transferência ela desejou aquele conjunto "éramos". Desejou tracejar o S da mesma forma que ele sempre fez. O S determinava a nossa identidade. O S fazia as curvas. O S a fazia esperar até tarde da noite. O S tornava-a mais resistente e forte nos momentos em que o dono do S se desestabilizava por alguma razão X.
Hoje, procurando um romance nas prateleiras de uma estante me deparo novamente com um castelo de histórias muito perfeitamente construídas pelos dois.
Sinto uma angústia de pensar que um dia aquele castelo deve ser desfeito. Deve rumar a outra prateleira. Deve ser de alguém. Pego-me brigando com meus irmãos pela angústia de não desfazer aquilo que está assim marcado pelo tempo. A estante, organizada e sempre no mesmo velho esquema, revelando expectativas a cada mudar de livros. Revelando crocâncias juvenis de meus pais. Revelando uma vida que era. Um novo esboço de uma vida que não é mais.
Aos poucos me despeço dessa história que persiste, junto umas pilhas aqui, outras acolá e discretamente vou construindo meu legado particular das memórias que não sei se terei um dia. Vou deixando os livros assim como quem nada quer. Invento posições para que os mesmos pareçam estar me aguardando para algum artigo ou esquema da faculdade.
A importância que dou àqueles livros é definitivamente disfarçada. Como o gostar dos tímidos. Querer por perto sem querer.
Aperto-os contra o peito, cruzo o longo corredor e no meu pequeno universo tento guardá-los como quem esconde o último pedaço de torta na geladeira, como quem contrai as dores do parto ou como quem espera a noite em claro pela chegada de alguém.
Assim carrego-os.


Polkadots