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know who you are at every age...
quarta-feira, maio 31, 2006
Depois de destilar tanta comoção solitária já não mais administrava bem as pernas ou qualquer movimento do corpo. Saiu repentinamente como quem perdeu a explosão, a demolição do prédio e rumou ao primeiro ônibus que viu pela frente. Descobriu que havia uma parada onde desceria e pegaria um táxi para casa por menos de cinco reais. No meio do caminho por questões afetivas entrou na farmácia e empurrou débito bancário abaixo mais uma caixa de fitoterápico. O farmacêutico letárgico havia garantido sucesso com a nova aquisição. Era uma caixa vermelha com desenhos de raízes e uma emblemática assinatura do laboratório que certificava com louvor os seus valorosos trinta reais. Pensou em não comprar mas ainda assim dirigiu-se ao caixa com extrema rapidez para que aquele lúgubre momento não se esvaísse na racionalidade das coisas, na mentalidade cesta básica .
Foi para casa e no caminho não muito distante ficou pensando nos porquês circunflexos, na concavidade daquele nariz petulantemente arrebitado e naquelas mãos aparentemente macias jamais tocadas. Das unhas discretamente roídas podia ler um conto frente e verso. Podia contar a história daquele personagem que se escondia atrás de golas listradas de um azul de vanguarda. Sempre pensava nele. O período do entardecer e o pré - travesseiro traziam uma bela angustia daqueles que por falta de imaginação desenvolvem conclusões precipitadas sobre as pessoas e acabam elegendo uma forma bizarra de cultivar afeto. Não se limitava só naquela parte rosada da bochecha que ainda preservava uma certa aparência jovial. Tentava com a memória ser mosquito e penetrar as intimidades. Imaginar pijamas, shorts de quem fica em casa, se descalço ou descalço repousava os pés num certo carpete. Se tinha luminária, se esquivava a luz amarela como ela. Se abria a geladeira no meio da noite ou se ficava por horas escorado na pia da cozinha observando os movimentos casuais da mulher. Pensou até se a filha dormia até tarde em seu colo, numa exaustão de criança que brincou o dia inteiro.
Perdia as estribeiras ao encontrá-lo. Queria manter a formalidade japonesa de quem fecha um negócio. A eficiência austríaca de um representante da IBM. Calculava as pulsações para que se movimentassem discretas. Tentava ajeitar as carnes que por uma razão ou outra ficavam meio salientes. Pensava em coisas tenebrosas como um elástico batendo contra a boca. Pensava nele patético, desprovido de proteção verbal ou intelectual. Ele com uma zorba cueca daquelas patéticas. Pensava nos pelos da coxa para não percorrê-los de maneira instintiva. Para ser assim patético como todo ser humano sem idealizações e fantasias românticas ou adornadas por uma beleza tela de cinema.
Se fosse percorrer o trajeto daquela boca começaria a gritar numa modesta salinha de reuniões. Gritaria ao mundo as futilidades mais urgentes e as defenderia como quem estudou a linguagem das abelhas.
Por isso, não pensou em boca, manteve-se firme numa respiração 1, 2, 3 , 1, 2 e continuou franzindo a sobrancelha como se fosse séria. Como se fosse intocável. Como se no mundo não existisse nada além daquela urgência dissimulada de falar de trabalho só para ficar perto e sentir os cheiros sem interrupção. 1, 2, 3, 1 2... Continuou mantendo o ritmo mas quando viu os longos cílios pretos teve vontade de encostar e domir. Teve vontade de ficar parada naquela janela , teve vontade de engolir uma certa estrutura metálica redonda (douuuuraaaaadddddda) e pedir que a buscasse se tivesse tanta urgência para se justificar.
E dessa vez, digo e repito, ela tinha certeza que stars didn´t fell in alabama e que não conseguiria mais escutar as músicas favoritas para fazer transferência nenhuma. A vida dela não tinha grandes mudanças. A vida dela era assim mesmo ensimesmamento com pequenos piques de contentamento. Era assim, sabonete acabando na água quente, era banho quente para ferir o couro cabeludo e era sobretudo piques de alegrias com pessoas inebriantes. Com aqueles tais únicos amigos que seriam por ventura padrinhos dos filhos. Num domingo ficariam à mesa brincando com as migalhas dos pães e com os restos nos pratos. Só se levantariam para trocar a música. Juntos anoiteceriam a contar as estrelas para mais uma segunda feira. Se fosse preciso adormeceriam num cansaço cheio de cumplicidade.
Causava uma tão recente e inesperada falta. Causava desprezo causava tudo mais que não podia compreender. Causava a pieguice do amor, o enrubecimento da face e a vontade manteiga de desfazer-se em seus ossos de mármore carrara. Medir sua cabeça com as mãos, traçar mentiras na suas costas e fingir que jamais o conhecia. Era para ser simples assim. Ilícito, sem formulários e sem número de matrícula.
Perdeu-se tanto, rodopiou tão solitária num gramado que as paredes dos prédios caíram. Ficou nua em meio a uma multidão que ria das suas nuances torpes. Ficou Geni para quinhentos mil cavalos troianos e fragilizou-se num choro helênico de quem não suporta ser olhado.
Conferiu as caixas de mensagem e resolveu ficar quieta para curar-se da embriaguez dos desejosinhos reprimidos de que muito gostava de preservar.
Fazendo sinais de fumaça e esmigalhando a areia com os pés não conseguiu mais parar. Não conseguiu continuar nada. Voltava ao mesmo velho esquema e entrava novamente na farmácia para conversar com o farmacêutico letárgico que salvaria suas aflições mais obscenas e a calaria com o exorbitante valor de 30 reais pretendendo dar solução para a vida. Naquela noite, só naquela noite.
Se ele fosse mulher comeria-o com os olhos mais chauvnistas da face da terra. Mas era um homem. Não tinha meia calça e não se escondia atrás de um rímel qualquer. Era o autor das tremedeiras e dos calafrios deliciosos de quem sentia-se febril numa eterna passagem de imagens idílicas.
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someone to watch over me...
domingo, maio 14, 2006
É mãe porque foi o homem. Entre suas coxas representou um papel. Verteu um líquido para rotular assim como mãe. Como mãe comum. Como mão. Mão que afaga, que tateia no escuro a cabeça incerta dos fios dourados. Apaga a luz e cobre os pés. Antecipa a chegada. Guarda o café, tampa-o com o pires e grita a pressa para não esfriar.
Tiraniza a desordem das coisas. Ajeita almofadas quando na verdade quer chorar. Ensaia risadas para ser íntima. Ajeita-se assim como quem nada quer e descansa seus ossos nos meus. Desculpa o frio. Inventa convenções.
Chora, chora muda no mundinho do quarto. Chora calada com a concessão do abajur. Chora como louca a função que não escolheu. Se esconde nas compotas, nos assados, nas tortas que silenciam quem é realmente.
Veste-se de Marte, caminha um jeito Saturno e prende nossos pés no clarão da lua cheia.
Faz-me assim forjar, a atenção na televisão que delira muda na sala só para te observar. Faz-me assim, irritação em dia quente, culpa da fila grande, remorço da abstração e tantas outras coisas que não sei nem nomear. Faz-me ventilador que movimenta as gotas de suor, cerveja gelada em fim de tarde, música antiga para "valsear" no tapete.
Vontade de um dia ser talvez assim. A dona das coxas, o homem e seu líquido que verte. Ser tu novamente curvada às novas linhas de quem não sabe quem é e termina repousando cabelos vermelhos em travesseiros macios.
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To be myself completely...
segunda-feira, maio 08, 2006
Ainda escora o pé direito na panturrilha esquerda?
Ainda anda com as calças velhas com um ar desajeitado pelas ruas daquela cidade?
É capaz de rir das minhas grosserias como se fossem piadas de mau gosto?
Ainda guarda a comida que mais gosta para confirmar seu péssimo gosto na minha goela abaixo?
Ainda compra coisas inúteis para esquecê-las dentro de casa?
Ainda ri dos meus amigos?
Ainda anota telefones em papel bancário e depois não sabe onde encontrá-los?
Ainda cultiva o ritual de conversar comigo através da fresta da porta do banheiro?
Ainda procura meus pés para confirmar o dia de descanso?
Ainda se surpreende com o barulho do meu secador?
Ainda promete jantares que nunca vai fazer?
Ainda afaga o focinho de cachorros vira-latas com os pés?
Ainda penteia os cabelos para trás para ficar terrivelmente parecido com Roy Orbinson?
Ainda aluga episódios das séries mais idiotas?
Ainda compra em demasia torradas doces de pão dormido?
Ainda repara se eu reparo alguma coisa?
Ainda se comove com a variação das cores?
Ainda me coloca no colo enquanto trabalha e subestima qualquer argumentação quer possa fazer?
Ainda bate os dentes de propósito para dizer que está frio?
Ainda toma leite e levanta o dedo mínimo?
Ainda corta as unhas e faz montinhos com as mãos?
Ainda caminha "chicleteando" o som das solas do tênis?
Ainda acolhe meus amigos em casa enquanto não chego?
Ainda inventa projetos megalomaníacos que nunca saem do papel?
Ainda deseja aquele velho apartamento com varandinha abaixo da figueira?
Ainda se esconde nas esquinas para me dar susto?
Ainda quer bater no vizinho senil?
Ainda simula instrumentos musicais com as mãos?
Ainda vai às sextas feiras bagaceiras?
Ainda se lembra de mim?
Ainda me chama pelo nome do tecido?
E depois de se perguntar tantas coisas que não sabe se ele faz mais ela fechou a cortina, apagou o abajur e foi escutar Belle And Sebastian.

The life pursuit...
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I could change the gray sky to blue...
domingo, maio 07, 2006
Ao reencontrar a possibilidade de amor me esgoto. Me esgoto porque nunca foi, nunca deu certo. Porém, me refaço no desejo de querer novamente. Sinto os cheiros que me adornavam, desejo os antigos paladares. Sonho e ensaio os hábitos mentalmente. Me visto como se fosse ontem, passeio pelas mesmas calçadas. Encaro a rua como um ermo. Piso o chão com cautela. Evito o tropeço da memória. Calada me encerro no olhar que não entende. Finjo ser amiga. Desconstruo a mulher.Esboço facetas desinteressantes. Compartilho intimidades banais. Me encerro na vontade amarela de sorrir mentiras.
O dia seguinte vem. Como um golpe embrulha o estômago. Provoca dor de cabeça no lado esquerdo da fronte. Inventa o choro por qualquer coisa. Acusa o domingo como feitor da solidão. Excita os sentidos com possibilidades de corte. Faz do horizonte uma inútil paisagem. A comida fica indigesta. Os olhos constante umidade . O coração um armário vazio na rodoviária. A boca ilusões áridas. Cabelos caídos como o semblante. A ansiedade da produtividade.
E encerro-me assim. Esgotada, porque certa vez alguém anunciou a possibilidade do amor.
Esgotada porque sou assim. Querer sem poder querer, condicionada a sobreviver dentro desse espaço imaginário que confunde a solidão e me faz querer berrar aos dias um pedido de colo seu e meu como criança.

Polkadots