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› abril 2006 |
miau miau... But as far as I'm concerned ...It's a lovely day Alguns motivos para escutar Diana Krall: O mundo fica confortavelmente nublado. Vou a Porto Alegre num balão a gás. Visualizo o velho apartamento. Abraço meu cão em pensamento. Penso a vida em media res. A casa barulhenta faz silêncio de contentamento. Jogo fora os papéis velhos. Organizo prateleiras. Faço contas de cabeça. Estico a cama com prazer. Tiro a poeira das cadeiras com sopro. Brinco com o par de meias nos meus pés. Faço os movimentos do gato olhando para a BR040. Rabisco o caderninho de anotações. Fico pensando em desenhos de acordes. Cancelo as coisas que não vou fazer. Penso em parar de fumar. Procuro alguma coisa para escrever. Finalmente, na Boulevard dos sonhos fracassados, entre “Irving Berlins” muito bem interpretados... Descasco uma pêra e penso comigo: Hoje é feriado.... Hoje é feriado... 0 comentários os seus olhos abrigam peixes verdes terça-feira, novembro 14, 2006 Minha querida Malvina Ah essas mulheres de olhos fundos Ilhas profundas de filhas imundas Suas veias são caminhos de alfazema Suas pernas adormecem na parada do ônibus Rugas que afagam a inquietação Estão por aí com seus cachorros e gentis bolsas pequenas Comem as últimas coisas do mundo O passado é fina renda Esquecem os nomes, esquecem os filhos, esquecem os números Penteiam o cabelo como quem percorre o mesmo caminho Abotoam uma casa do casaco apenas O broche é um quadro na parede do seio Conservam os olhos úmidos porque são jardins inundados Foram meninas, foram moças, foram mães e esposas Foram também meninas que gostaram de moças Vestiram tecidos finos e pintaram o rosto São borboletas de palha que carregam o tempo nas costas São guarda-chuvas escorados na parede atrás da porta São fechaduras emperradas Limo do chão Amor em forma de ameixa seca Agulhas sujas de vitrolas pequenas O cheiro dos gatos São daninhas que crescem no mato Grampo, talco, meia e echarpe Tremem como os ponteiros Equilibram nos ombros alheios Pensam coisas feias e sombrias Conversam com a morte enquanto o leite ferve Descansam afundando as mãos na terra Escondem dinheiro em saquinho proibido Caminham nas ruas feito pombinhas Perdem o fôlego na frente do mercado Não têm telefone mas têm caderneta No casaco de brim abafam o dia ruim No morno quarto rezam baixinho Fazem a cama para a ausência 1 comentários pra tudo se acabar na segunda - feira... segunda-feira, novembro 13, 2006 1 comentários ui, ui e ui !!!! sábado, novembro 11, 2006 Verdade ou não, prefiro acreditar que isso tudo foi real. Apenas um e-mail que recebi da minha "mamã" e adorei: Vestibular da Universidade de São Paulo cobrou dos candidatos a >> > interpretação do seguinte trecho de poema de Camões: >> > >> > "Amor é fogo que arde sem se ver, >> > é ferida que dói e não se sente, >> > é um contentamento descontente, >> > dor que desatina sem doer ". >> > >> > Uma vestibulanda de 19 anos deu a sua interpretação em forma de >> > poesia: >> > >> > "Ah! Camões, se vivesses hoje em dia, >> > tomavas uns antipiréticos, >> > uns quantos analgésicos >> > e Prozac para a depressão. >> > Compravas um computador, >> > consultavas a Internet >> > e descobririas que essas dores que sentias, >> > esses calores que te abrasavam, >> > essas mudanças de humor repentinas, >> > esses desatinos sem nexo, >> > não eram feridas de amor, >> > mas somente falta de sexo!" >> > >> > Ganhou nota dez. Foi a primeira vez que, ao longo de mais de 500 anos, >> > alguém desconfiou que o problema de Camões era falta de mulher... >> > >> > 0 comentários Like the scent of some forgotten melody Hoje é dia de ver gotas de chuva escorrendo pelo vidro da janela. É dia de confirmar descanso na xícara de café com leite. Ouvir Tony Benett e K.D. Lang para ficar com uma dorzinha sombria no coração. É dia de pintar as unhas e pedir delicadeza no dedão inflamado. É dia de pisar devagar pelas ruas meio molhadas. É dia de cantar músicas sem saber a letra. É dia de banho quente e sabonete escuro. Inevitavelmente, fico a pensar no natal que chega em breve. Aprendi a sentir com a urgência dos lojistas. Há duas ou três semanas carregava algo tranqüilo dentro de mim e minhas retinas não precisavam localizar tons prateados, dourados, brancos, verdes e vermelhos. Eis que um dia, na Rua São Paulo, trânsito de duas e meia da tarde (como diria Adélia Prado - "Horário em que o mundo pára".) me pego numa lembrança antiga de uma loja de tecidos italianos. Lembro-me do meu pai e de minha mãe que certa vez consumiram uma paixão tola. Reformaram os sofás da casa velha com tecidos italianos em tom cru e salmão. Não me importa tanto como ficou o sofá, mas sim a beleza memorável daquela loja, da dona da loja, dos funcionários da loja e, sobretudo da luz da loja. É luz de cozy moment. É luz para a eternidade que eu desejo. Talvez sejam singelas lâmpadas, mas fazem toda a diferença. Enfim, Rua São Paulo e o trânsito continua parado. Mudo o foco, deixo a loja de tecidos e tudo que ficou por lá. A lojinha ao lado ostenta anjos enormes. Anjos horrorosos. Anjos de cara estranha e uma purpurina mal laqueada sobre suas asas de anjo barato. Sinto por fim aquilo que começo a sentir mais ou menos nessa época. E o que seria? Acho que fico com o coração num modo musical de Woody Allen. Meu olfato só sente o cheiro de frutas desidratadas e fico a pensar quanto mais vamos viver, quanto mais vou fumar, quantos cachorros terei, que tenho que me desfazer de muita papelada, que tenho pares de sapato em exagero no meu armário, que não vou mais usar tantos agasalhos, que meus discos estão estragando porque não sei guardá-los e que finalmente não estou num sonho redondinho e Bing Crosby não vai cantar White Christmas ao pé do ouvido na minha noite quente e tropical de um tropical natal brasileiro. Isso tudo é muito bom na verdade. Parece mais real. Mesmo assim, fico pensando que não tenho mais disposição. No dia 24 de dezembro tranco-me no quarto e finjo um tremendo mal humor para não ter que escutar os berros da minha mãe e da batedeira. A primeira sempre grita porque alguém esqueceu de comprar os fios de ovos e a segunda por alguma função entre a manteiga, a gema e o açúcar refinado. Quando estava longe de tudo isso morria de saudades. Fechava os olhos para retomar a cena da minha casa caótica. Dava qualquer coisa para ter que comprar fios de ovos para alguém. Lembro do dia que finalmente compramos gravuras emolduradas. Sempre tivemos problema com molduras. Era natal e comemos sanduíche em pé perto do parque. Hoje é dia de ver gotas de chuva escorrendo pelo vidro da janela. É dia de confirmar descanso na xícara de café com leite. Ouvir Tony Benett e K.D. Lang para ficar com uma dorzinha sombria no coração. É dia de pintar as unhas e pedir delicadeza no dedão inflamado. É dia de pisar devagar pelas ruas meio molhadas. É dia de cantar músicas sem saber a letra. É dia de banho quente e sabonete escuro. 0 comentários Promessas para a eternidade domingo, novembro 05, 2006 Comprar um relógio de pulso pequeno com pulseira de couro gasta (o tempo passou a ter uma tremenda importância) Pintar a parede vazia do quarto de verde Carregar o meu irmão nas sessões de cinema Escrever um livro Viajar para a Grécia só para boiar no Mediterrâneo Procurar Tom Ripley em Veneza A discografia completa do Chet Baker Rever alguns amigos Fazer massa de pão com Celina minha amiga na casinha do imaginário de Milho Verde Devolver os discos do Bruno com embrulho de natal Rever Porto Alegre Ter um bebê Pisar na areia quente de Cumuruxatiba Colocar as reproduções em moldura de vidro translúcido Aprender a falar alemão e italiano Fazer omelete decente para a minha mãe Mestrado Abestado Doutorado Pular numa bacia de pluma Pisar em uvas lá em Caxias Rir com o Fábio Pintar uma tela com o Rafa e o Ju segurando seus gatos Falar coisas de mulherzinha com a Beta Fotografar o perfil da Nina nininha Ana Descobrir como plantar manjericão na janela Trocar a lâmpada da luminária Aprender a gostar da umidade Tatuar “As Virgens “ do Klimt nas minhas costas Fugir com o tatuador para Ibiza (sim, porque se um dia algum tatuador conseguir reproduzir Klimt nas minhas costas eu passo, lavo e cozinho) Dançar Yves Montand na chuva Comprar um cachorro bobão Conversar com peixes dourados Fumar muito menos Descobrir novos acordes de bossa nova Lamber as crias da minha irmã Mergulhar com meu irmão Cuidar dos cactos do Rincão Despedir de quem não despedi Encontrar sentido Parar de roer as unhas Fazer aulas no tecido Comprar a trilha da Dolce Vita Fazer um mil folhas de baunilha tão bom quanto aquele de ontem Sonhar passarinhos... And I seem to find the happiness I seek... 1 comentários |
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Polkadots |