<%@LANGUAGE="VBSCRIPT" CODEPAGE="1252"%> Memo Grocery Store


› abril 2006
› maio 2006
› junho 2006
› julho 2006
› agosto 2006
› setembro 2006
› outubro 2006
› novembro 2006
› dezembro 2006
› janeiro 2007
› março 2007
› abril 2007
› maio 2007
› julho 2007
› setembro 2007
› outubro 2007
› dezembro 2007
› julho 2008
› agosto 2008

memórias lusco-fusco
quinta-feira, setembro 28, 2006

Há tempos não venho aqui e nem sequer abro essa página. É como nó na minha garganta. É como um dos muitos projetos que desenvolvi e que jamais terminei. Fazendo um revival mental dos meus planos fracassados percebo que já realizei muitos projetos que jamais saíram do papel. Alguns, envolviam discussões inflamadas e pedantes sobre interpretação teatral, outros contaram com a participação ousada de Iberê Camargo, autores como Ibsen, Beckett, Wederkind, Yoshi Oida, Artaud e se não me engano até mesmo um coquetel de Bloom, Shakespeare e Nelson Rodrigues com pequenas pausas para reflexão e montagem de performance em parques, ruas e praças. Hoje penso eu, que todos esses projetos transitaram no campo da ansiedade acumulada. Morava em um apartamento pequeno que mofava com o passar do inverno. Por isso, o mundo não podia ser muito pequeno. Ao menos na minha cabeça, que habitava fisicamente vinte e cinco metros quadrados ou menos. O fato é, tive que viver aquilo tudo mesmo sem viver de fato. Reconheço que algumas vezes demos a cara à tapa e arriscamos algumas coisas ousadas. Não tinha porque não tentar. Estive com pessoas generosas em cena e pessoas que realmente amam tudo o que fazem até hoje.
Antes de morar na pequena redoma, me perdi quando comecei a fazer Tragédia Grega. Naquela época me apaixonei visceralmente pelo amigo do amigo (aliás, isso nunca me pareceu algo consistente - apaixonar-se pelo amigo do amigo) e Tragédia Grega não combinava com aquele clima artificial de início de esquemas amorosos. Tinha um cheiro novo de sexo no ar, tinha mimos nos finais de tarde e aquela bolha medíocre de um lindo apartamento com amigos legais me bastava. Definitivamente chutei a bunda da Jocasta, da Clitemnestra, da Elektra e de muitos outros. Pegava um táxi correndo, (e nem morava longe) engraçado, o amor me faz gastar muito dinheiro com táxi. Não sei, retomando aquela época, tinha urgência imatura de chegar em casa, ficar recolhida no meu quarto que era bacana naquele tempo. Sem modéstia alguma, ouso dizer que era o quarto mais bonito da república. Um quarto amarelo, o menor da casa. Não tinha na parede aquele tom de molho rosê. As janelas eram clarinhs, ao fundo uma árvore enorme e atrás da árvore um prédio maior ainda. Me perdi em alguns módulos dos estilos de interpretação teatral porque não dissociava amor de trabalho e estudos. Calma lá, eu era mais jovem do que sou agora e não tinha a obrigação moral de reservar alguns breves momentos para ser feliz. Queria tudo de uma só vez. Sem dosagens. Quando divido as coisas no tempo e no espaço elas perdem o sentido, a graça e aí, começo a ir ao cinema sozinha, o que também não é nada péssimo.
Eu tenho amigos fantásticos naquela cidade. Lá na minha moradia atômica dividimos momentos conturbados, cozinhamos inúmeros pratos, choramos umas tantas outras vezes e regados a chimarrão fechamos domingos e domingos pseudo familiares sentados no chão da sala. Talvez eu representasse a casa da avó para aquelas pessoas. Pessoas amabilíssimas que não sei como não desistiram de mim. Houve vezes em que me recusei a atender interfone e telefone. Me escondia dentro daquela bolha de concreto e não queria ser encontrada. Isso acontecia geralmente quando o gás acabava e minha conta bancária chorava lágrimas de crocodilo. Enfim, os meus queridos amigos não desistiam. Apertavam o interfone mais forte e ousavam com passos discretos invadir o hall de entrada porque me conheciam muito bem. Isso é no mínimo reconfortante, não? Ter amigos que aguentam os seus ataques geniosos e mesmo assim ainda querem conviver com você. Te conhecem e abraçam o corpo inteiro não isolando a parte do sexo como se fosse algo letal. Eu me lembro que uma das primeiras aulas no teatro escola insistia na humanização dos abraços apertados. Acho que foi a partir desse momento que ficou estabelecido por alguma razão desconhecida, que teríamos esse vínculo tão intenso e arrisco dizer, eterno. Enamoramento de gente perdida numa cidade.
Pois bem, quando criei isso aqui não queria mais nada além disso que acabo de fazer. Não é em vão que vez ou outra fico a destilar as minhas memórias. Eu criei isso aqui bem na verdade para não ficar olhando para as fotografias de Porto Alegre. Criei isso aqui para não matar aquela que ficou no aeroporto Salgado Filho no dia três de dezembro de dois mil e quatro. Quando eu entrei na sala e embarque senti que quatro anos escorregavam pelas minhas mãos e senti o descontentamento contente da infância, quando escorregava no chão ensaboado da grande cozinha de uma certa fazenda.
Reconheço a minha sorte. Tenho um grupo de amigos especiais aqui nessa cidade. Amigos aflitos com trilha sonora. Amigos que deliram por causa de discos. Amigos que subvertem o cotidiano com fantasias desprotegidas. Amigos meio maternais. Amigos meio reservados que fazem cara de cachorro quando estão terrivelmente tristes. Amigos eternos também. Ouso arriscar que em alguns anos sentirei a sensação escorregadia de abandonar tudo novamente.
I love the winter weather, because the two of us can always be together. Alguém já disse isso...
1 comentários


tiny things but huge dreams...
quarta-feira, setembro 20, 2006


Everyone Says I Love You scene...

Nunca pare de fumar ou ao menos não anuncie assim aos quatro ventos. Você corre um sério risco de se tornar insuportável. Vai começar a fazer listas intermináveis da sua rotina. Vai notar o cheiro das flores e cheirar seus dedos compulsivamente. Começará a manter uma relação quase sexual com chocolates e sorrirá gratuitamente na rua como alguém destrambelhado.
Não deixe de ler o que queria ter lido. Vai se arrepender amargamente (engraçado, arrependimento sempre me pareceu algo doce) da sua displicência ao escutar de alguém palavras que deveriam sair com as gotículas de saliva da sua boca.
Não deixe de cortar os cabelos quando quiser. Cabelos vêm com a nova estação. Fazem um contorno das tuas expectativas e balançam como música nova a cada corrente de vento.
Se gostas de xampu, exagere ao tomar banho. Afogue-se na espuma exagerada e de preferência sinta-se sufocado com o cheiro que a embalagem promete.
Não hesite em assistir ao seu filme preferido quando quiser, e não dê lhufas à sensação da repetição. Cada trilho é um trilho, mas a trilha é inexoravelmente a mesma.
Não sustente a babaquice de plantar árvores e ter filhos. Dentro do livro que deveria escrever, invente árvores de plástico e filhos com cabelos fios de nylon.
Conte as pintas do seu corpo e terá certeza de quem é. Confira os dedos dos pés e pratique a sensação de pisar o mundo.
Feche os olhos. Se for dia, invente a noite.
(amanhã retomo o que senti ontem)
1 comentários

I´m shallow
sexta-feira, setembro 15, 2006

A minha vontade de escrever sobre muitas coisas nasce mais ou menos por volta desse horário quando finalmente chego em casa e passo a agir num ritmo confortável das minhas músicas, do meu quarto, da minha pouca luz e alguns caprichos de sexta feira.
Eu morro de medo de perder algumas idéias que tenho. Não são idéias ousadas, diferentes e incríveis. São idéias que me vêm à cabeça sobre muitas circunstâncias.
Pensei na minha ingenuidade outro dia. Há mais ou menos dois anos travo uma relação daquelas meio matrimoniais com esse blog. Acontece que na minha vida esse lugar tem sido uma espécie de apartamento ou algo parecido com o que costumava viver. Não vou agora aqui levantar a memória dos amigos, do cachorro, da vizinhança. Quero agora recobrar uma busca, um sentido que segui por tanto tempo e só agora começo a compreender. Um dia, me encontrei com sensação semelhante a esta que sinto agora. Gosto dos espaços compactos onde eu possa estar só, com um pouco das minhas coisas que não importam minimamente aos outros.
Então, passei um bom tempo e ainda corro os dedos aqui. Agora com um foco menos receoso, romântico e pessimista. A minha vida anda como um belo casaco vermelho de veludo num armário sem muitas roupas. O fato é que nada me importa com tanta intensidade mais.
O princípio das dores. O que são as dores? Não considero dores físicas, mas me refiro a essas eventualidades mentais um tanto quanto turvas. Tão turvas e tão interessantes. Tenho voltado a minha atenção para os bebês. Os bebês estão por todos os lados e lugares. Os bebês renovam os meus olhares. Sinto-me bicho novamente quando os vejo. Estalo os dedos com um desejo incontrolável de tocá-los.
Nesse momento, sinto-me três coisas absolutas. Um misto e muitas mulheres que estão na minha história. Não somente a que me gerou ou aquelas que estranhamente chamam de irmã ou amiga de infância. Sei que sempre toco no assunto do Gustav Klimt que definitivamente não deve ser encarado como uma jogada estética pouco pensada. Dessas coisas de mau gosto eu taurinos fazem para parecer interessantes. Nunca acreditei em signos e astrologia, bem como em coisas distantes do que é palpável.
Tenho verdadeiro fascínio pelas pinturas do Klimt. A textura daquelas imagens é fascinante. Coincidentemente envolvem geralmente temas muito bem desenvolvidos. Sob a conseqüência de se sustentar somente com os tons pastéis extremamente tocantes, mulheres esquálidas, obesas e finas, dor, angústia num tom provocante de uma culpa disfarçada por uma maravilhosa imagem.
Nunca sei simplificar muito. Enfim, são coisas que quando vejo fazem-me sentir a mãe, bebês, os homens e tudo que representam silenciosamente. Aqui, no planeta tranquilo do meu quarto fechado com uma estante vermelha. Hello! Can you hear me?
Uma boa noite ao som de I Love N. Y. E. (About a Boy)
2 comentários

e o vasto mar espelho do céu?
sexta-feira, setembro 08, 2006


Gustav Klimt -The Three Stages of a Woman´s Life, 1905

Quando menina, guardava o pai dentro de si. O pai que tinha pincel para limpar a poeira do ar. Tinha o pai em tons pastéis e cores berrantes. Tinha o pai nos lápis caros, no giz de cera importado. Não podia pegá-los. Usava na imaginação e na simples caneta de ponta quebrada imitava os desenhos do pai. Tocava um piano imaginário com a música predileta do pai. A menina era puro pai. Foi o pai até crescer. Gostava de escutar de um desconhecido que se parecia com o pai.
A menina ficou com quase tudo do pai quando deixou de lado a história do pai. Hoje o pai, está em alguns objetos. Está nos discos. Está na mágoa da mãe. Está no sambinha que toca na sala da casa geralmente aos sábados pela manhã.
O pai está nas velhas árvores e suas sombras lá na Bernardo Monteiro. Está no detalhe das caixinhas da antiguidade.
Está na pele o tal do pai. Está até naqueles momentos difíceis do amor. A menina vê-se no pai. A menina não fala o que quer porque aprendeu a calar-se como o pai.
A menina andou procurando uns pais em vão. Viveu histórias de amor com alguns pais, ensaiou outras que nem sequer estiveram no papel. Esses pais não eram parecidos com o seu pai. Ela não queria que parecessem. Eles acabavam reconhecendo algo assim e se assustavam com as diferenças. Nem eram tão grandes assim. Iam de Haydn a Sex Pistols. Damascos e jujubas de goma. Não queria pais como o seu pai. Começaram a recomendar remédios para resfriado. Decidiram as preferências por determinadas coisas e aconselharam a menina com carinho senhoril. Reconhecia naqueles pais o desfalecimento dos sentidos. Com aqueles pais não pintava a vida em giz proibido. Era apenas uma leitura breve e divertida daquelas vidas vazias.

A menina era a mãe nos trabalhos da escola. A menina cuspia o discurso da mãe ainda muito pequena. Certa vez, perguntou na sexta série à professora de História se ela conhecia Hannah Arendt só para fazer as vezes de sabichona. Com a mãe era um protótipo adultozinho bem patético. Com a mãe vestia coisas proibidas. Calçava os saltos da tia com a prima. Com a mãe ensaiava parto, carregava bebês de pano e chorava nas apresentações do balé.
Um dia a mãe ensinou coisas mais difíceis. Noutro, pintou as bochechas da menina.
A mãe perdeu a menina na praia. A mãe amou quase todos os genros. A mãe endureceu o afago. Transformou-os em presentes simbólicos. A menina não viveu outras mães. Talvez tenha experimentado um pouco as mães dos amigos. Nunca deu muito certo. Aquelas mães não tinham cheiro de patchouli.
0 comentários

quando tudo mais não é eterno assim


Paul- Pablo Picasso
Because the wind is high it blows my mind...
Os dias são nauseantes e se o céu assim azul ou nublado se faz, a vontade de chorar é a mesma. Vontade essa torturante que me faz desistir dos ônibus, das ruas, ou seguir as linhas das ruas. Desfazer o descanso das praças. Dissolver o canto dos passarinhos, cristalizar a memória e repartir poréns. Para não restar mais dúvida, conseguir falar. Para não corar cantar qualquer coisa. Para não ter mais razão vestir as blusas pelos pés. Calçar as costas. Cair nos segredos e mesmo assim não sabê-los. Ser coadjuvante de toda uma existência. Borrar os olhos com rímel quando necessário. Perdoar a preguiça. Não culpar as incapacidades. Confortá-las como doenças degenerativas. Não superá-las. São suas, são minhas. Mais minhas que suas. São sujas. São mentiras. São criação de quem mora dentro de ti. São caprichos da alma para ser assim um pouco diferente.
Amanhecer com os pés quentes. Desabotoar a camisa com os dentes. Conter as visões ardentes. Não ranger dentes porque és assim reticente.
Calar com segredo, regra primeira para os medos. Calar é castigo, na garganta dos oprimidos.
E aos tímidos? Aos tímidos a telas de cinema. As fotografias guardadas em lata de biscoito amanteigado. O sorriso de cumplicidade das filas. O silêncio de tudo mais que adormece. O sangue quente que protege o que não sai.
E aos felizes? Todos os pecadilhos do mundo. Segurar com as mãos o vinil que gira. Adiantar letras e confissões. Banho com xampu, escovar os dentes com canela. Sacudir os cabelos para o vento. Acenar ao desconhecido. Velejar em um barco e voltar de avião.
Todos os dias a saudade que não sei viver sem ela. A tua maca no hospital. Eu partindo em pensamento todos os dias, só para ver-te um pouquinho. Eu sentindo medo por ti. Eu sentindo tuas dores para que sinta as mesmas de forma menos intensa.
Eu me calo como teus tumores. Eu me encerro na tua vontade de não se explicar. Eu não te ligo mais para não levantar as suspeitas de tua morte.
Tua morte é como aquela senhora russa e flácida de peles enrubescidas. Tua morte é meu adagieto. Tua morte é um presente que não abrirei. Tua morte ri de mim quando tento te abraçar pelos buraquinhos do telefone.
É minha tormenta. Minhas contas a pagar, os trilhos entre Tiradentes e São João. Nossa praça XV, nosso palco velho. Nossa casa mofada. Tua morte é aquele você em um terninho singelo de linho. É tua feição de bebê que se recolhe aos poucos no conforto quente da mãe.
Tua morte é minha vida.
Sempre em ti restará aquele que chora aos pouquinhos em silêncio . Estou chegando ao fim porque tu és a melhor Geni que eu conheço.

Salta um anjo de marfim
Olhos de cristal
No portal um mandarim
Azul real
Invisível trampolim
Céu de vitral
Abre as asas querubim
É imortal

Dançam estrelas em suas mãos
E no piano o coração das águas
Navegador de um oceano
Além do mar
Além do fim

Salta um anjo de marfim
Olhos de cristal
Abre as asas querubim
É imortal
(Eternamente – Na Ozzetti)
0 comentários

Polkadots