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Sky, so vast is the sky and far away clouds just wandering by...
segunda-feira, agosto 28, 2006

A miopia não deixa que os galhos balancem soltos. Tudo fica costurado num borrão de cores fortes. Na rua não se enxerga as pessoas. Evita olhar para frente e procura no chão o conforto de enxergar as linhas. As crianças parecem pequenos pontos multicores. Os prédios são pássaros que deixaram de voar. As nuvens, algodões manchados que se movimentam lentamente.
Aperta o olhar para que a imagem fique mais nítida. Justinha com o mundo passa a significar algo pelo enquadramento dos óculos. Quando as lentes estão sujas, certamente vai se sentir confuso. As contas acusam dezenas de pequenos números que mais parecem caracteres japoneses.
O mundo que se figura com os olhos fechados é perfeito. Tem o detalhe das linhas, as nuances das curvas e num lento bordar de significados alegra as suas retinas que adormecem.
A miopia não avisa. Aumenta como o tamanho dos pés e as medidas do corpo. Os olhos choram o cansaço de se enxergar.
Traz consigo a timidez. Nunca se olha como realmente quer olhar. O foco passa a ser vítima da insegurança ou a insegurança que dança com um vestido solto.
Não se atreve a acenar os braços e vacila nas certezas.
A miopia carrega flores de uma estação distinta.
A miopia é hoje que chove. É a segunda-feira que não passa diante das janelas embaçadas, é clarão que se desfaz e a certeza de pequenos pontos reluzentes lá embaixo na cidade.
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the answer is easy if you take it logically...
quinta-feira, agosto 24, 2006

Bill Watterson

Você retoma então aquela velha babaquice de sentir necessidade de escrever quando as coisas não vão lá muito bem. Ontem, pela enésima vez, inesgotavelmente, pensei em mil coisas que podia fazer da minha vida. Um dia estranho. Percebi que ontem foi impactante somente hoje pela manhã, ainda naquele estado das manhãs de domingo entre o dormir e o acordar. Porém, era quarta-feira e sim, a minha cama fica escorada abaixo da janela, de modo que o sol das sete e meia bate de maneira violenta em meu rosto. O travesseiro vítima está muito quente, fora esquecido pelo sono. Depois você observa que o vento uiva lá fora, que seus cabelos estão meio molhados e que seu corpo passou uma madrugada febril. Pensa então, que as suas noites têm sido óperas delirantes e que você transpira como quem transpira assistindo a um grande espetáculo no Teatro Alla Scala. Imagino que as pessoas transpirem por muitas razões. Ultimamente transpiro de aflição. Transpiro sem parágrafos também.
Voltando ao dia de ontem, comecei a pensar em uma confissão muito forte de um amigo.
Ele disse com brilho nos olhos que deseja levar um murro do pai por questões particulares. Ao escutar, tomei aquilo como algo intenso e desequilibrado. Hoje pensando ainda sobre aquilo, tenho vontade de chorar. Tenho vontade de dar um murro na cara dele, pois essa é a condição (explicada por ele) para que ele tenha coragem de tomar as rédeas da vida. Sair de casa mais efetivamente.
"She’s leaving home after living alone for so many years..."
É assim que me sinto. Construímos moradas particulares e o ensimesmamento é um alicerce seguro. Criamos o hábito (alguém disse que é o regulador do prazer e da dor?!) de detestar coisas pequenas. Convencionamos que o início das manhãs é cruel e que um sistema te persegue. Você é vítima do asfalto, você é vítima do ônibus que não passa e o motorista do ônibus é um cara rude que entope o ônibus com pessoas tagarelas, que falam alto, que cospem gotículas de saliva nas suas orelhas. Você debocha internamente dos decotes das meninas, você ri da calça "apertadinha" do cara que passa a roleta, você observa a cabeça do bebê que dorme no colo da mãe miserável, você tenta ler o cartaz da exposição mas não consegue porque o ônibus passa ligeiro. Você anseia pela hora de puxar a cordinha do sinal para descer. Você agarra o polegar no botão vermelho do PARE.
Não sabe mais com precisão aqueles dados e informações da sétima série. Calcular os habitantes no mundo traz aquela sensação de contar estrelas na praia. Você não sabe nada, mais precisamente. Aí, no meio de uma aula de Literatura Inglesa você olha para o seu amigo (aquele do murro) com um constrangimento que chamarei "constrangimento dos conhecimentos National Geographic". Fala em tom soberbo como uma old english lady que promove chás beneficentes para mandar remédios para o Quênia. Fala em tom confessional que se sente envergonhada por não saber determinados dados historiográficos do fucking trio Old English, Middle English and Modern English. Não me recordo exatamente das palavras que ele usa, mas em tom debochado suspende os ombros e diz que não se importa, afinal não temos consciência nem da nossa existência. Continuei retrucando como uma tia velha e moralista. Agora tenho vontade de chorar também.
Enquanto não encontro um lugar para morar tropeço nos dias e espero o último suspiro da noite, às 23:30 os cachorros não latem. É nesse horário, a enorme torre de energia lá no alto da montanha fica parecendo um grande navio. Assim, faço a minha cama com camadas pesadas de colchas. Acendo uma vela, aqueço um óleo com essência de eucalipto, despisto a culpa do cigarro, ouço uma velha coletânea do Cole Porter e adormeço com uma sensação romântica melodramática de que os dias são completamente iguais. Sou um Calvin sem Haroldo?
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quinta-feira, agosto 10, 2006
motivo: vestido preto









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adágio para mãe, filha e irmã
terça-feira, agosto 08, 2006

Klimt Gustav - Girl-friends (1916-17 )

A nossa semelhança se encerra no nariz. Eu gosto de música, ela coleciona sapatos e a outra tem mania de pintar os cabelos.
Quando estamos juntas procuramos discordar para não perder a elegância da nossa convivência. Quando somos duas, procuramos algum lugar para almoçar. Juntas fazemos guerra. Elas gostam de vitrines, elas gostam de ofertas, comparam as coisas, fazem-me rir à distância.
Acusam carências quando não quero dividir a sobremesa. Viajam e ligam para contar como está o tempo. Carregam presentes na mala. Despedem-se com aflição porque não sabem saborear a distância.
Quando estivermos no fim dos tempos, teremos nossos cuidados certamente. A mais velha exigirá mais capricho. Ultimamente deu para esquecer as coisas e só se lembra quando quer criar novos motivos.
No trânsito acusa os homens. Na vida exalta a falta de dinheiro como se o mesmo fosse um amigo que tivesse partido para longe e nunca tivesse mandado um cartão.
Nas datas festivas procuram lugares diferentes. Contam com a solidão para confirmar o afeto à distância. Arrependem no meio da madrugada e ligam com sintomas estranhos.
Nos carregamos às vezes ao hospital. Os médicos, principalmente os que atendem à segunda moça, dizem que ela está cansada. Somatiza úlceras e toda a sorte de "ites".
A outra dorme cansada na frente da televisão. Quando desligo pergunta em tom assustado "- o que está acontecendo?".
Nos dias de chuva conferem as páginas dos classificados e inventam algum novo lugar para morar.
Moramos no apartamento antigo do centro em pensamento. Mobiliamos os espaços vazios. Ficamos olhando para o parque e reclamamos dos tacos velhos no chão.
Planejam reformas, a que coleciona sapatos e a que pintar os cabelos. Entram em êxtase quando falam da sala sem algumas paredes.
Uma nos pede filhos. A outra quer filhos e não pode ter filhos. Eu ainda tenho medo dos filhos. Um certo dia do mês sou capaz de reproduzir uma ninhada. Depois passa.
Um dia ela vai deixar de pintar os cabelos, não escutarei músicas e apenas uma sapatilha confortável bastará para a satisfação da outra.
Nos encontraremos no jogo de quem quer partir primeiro. Anteciparei-me através dos cigarros. Ou não.
Não pensarei mais nessas coisas. Sei somente que nem passamos mais o pouco tempo juntas. Ultimamente não nos satisfazemos. Às vezes empacotamos nossas malas e resolvemos dar um tempo para a nossa tóxica convivência.
Precisamos sentir saudades. Nos encontramos por aí e adoramos a idéia de sermos tão mesmas na vontade de sermos diferentes.
A nossa semelhança se encerra no nariz.
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All about sunday...
domingo, agosto 06, 2006

Gato Negro, Gato Branco - Emir Kusturica

Tem domingo atrás de domingo. Raios de sol na cor metálica do prédio. Há montanhas veludo verde musgo. Há cachorro que late porque o dono saiu. Ornella Vanoni e Gino Paoli senza fine. Um domingo Senza Fine. Adiando trabalhos, produzindo pouco texto, espiando na janela, gente bacana, vontade de comer doce e livros empoeirados. Tem mãe que dorme impunemente numa relação quase íntima com os braços da berjaire. Tem andorinha pequena fazendo barulho. Tem Chet Baker cantando You Don´t Know What Love Is. Tem resultado da palestra do Alexandre Soares Silva (quase me mijei de tanto rir) "me mijei" parece nome de herói japonês. Mudaria para "MIMIJEI", tudo juntinho, acho que ficaria mais plástico. Mimijei teria poderes especiais. Poderia lançar musse de chocolate pelos olhos e na bexiga um dispositivo com um jato de cerveja bock. Mimijei viria nas versões pocket e inflável (tamanhos P, M, G e XG). Mimijei também conversa com você quando o trânsito está insuportável. Mimijei massageia os pés e lê Mob Dick antes de você dormir. Pode crer, não sei quando sai no mercado, mas será bombástica a sua aparição. O asfalto vai esquentar muito e o edifício Acaiaca soltará um pó branco.
Nada me importa nesse momento. O cretino do Chet Baker calculou o horário em que o céu vai ficando vermelho e começou a sussurrar Those Foolish Things nos meus ouvidos. Hoje é dia de nostalgia. Saudade de almoçar na casa do Rafa e comer os pratos temperados do Juliano. Saudade de descer correndo a escadaria da Borges com a Beta. Saudades do querido Fábio (que melhorará rapidamente) me chamando de falcatrrrua. Saudade da época em que tinha lanche na casa da vó. Saudade de rir do tio barrigudo zapeando os canais da tv. Vontade de sentar no coreto da praça com balão a gás amarrado no pulso. Saudade de pedir algodão doce. Saudade de tomar uns pileques naquela varanda fria da André da Rocha.
E agora numa perspectiva mais otimista vamos escutar Barbados, repetir uns discos do Stan Getz, fazer agenda, tomar banho quente e garimpar umas coisas aqui e ali no jornal.
Cinema?
Ah Bom! ?
Cafeteria?
Momo?
Não...
Um certo alguém para conversar mais tarde, porque atrás de domingos há domingos mui guapos e interessantes.
Fico aqui.
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sexteto de mon petit coeur...
terça-feira, agosto 01, 2006
Resolvi brincar de Rob Fleming e coloco aqui uma "six fantastic" list.







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Polkadots